quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Não Reajo, Não Resisto, Não Respiro.

Ele me bateu novamente.
Seus tapas são frequentes.
Diz que a culpa de sua agressividade sou eu.
Também falou coisas horríveis de mim,
Sempre fala.
Sua rotina de sempre pegar uma falha minha e acentuar, machuca.
Acostumei a estar sempre errado.
Pros pais, um acidente. Pra família, um erro. Pra ele, saco de pancadas.
Não é só uma agressão física, é toda uma física da agressão. A capacidade dele de transformar toda a sua dor e amargura em energia, de condensar suas frustrações e personificar nos hematomas deixados na minha pele.
Reage.
Tentei. Diversas vezes. O orgulho é terrível. Isso tudo aqui é meu. Foi eu que construí. Uma mistura de suor e lágrimas que foram misturadas a massa de arrependimentos levantaram essas paredes, e o telhado é uma manta de impotência que não me deixa chegar ao céu. A janela tem grades, não me deixam sair. Você mesmo diz que daqui vivo eu não sairei. Não reajo, não resisto, não respiro.
Foge.
É visto por todos como covardia, falta mesmo um pouco mais de coragem para fugir daquilo que não tenho culpa. Sobreviver para começar a viver. Sinto falta do que não tive. Tenho medo de pra onde ir, maa andar pra trás é impossível, parar e esperar e agendar a data de morte e cair no mundo é mergulhar em precipícios.
Pulei.
Daqui a algum tempo deve-se ouvir o impacto de um corpo cansado a se espatifar no fundo, ou eu aprendo a voar antes de chegar no chão.

Dedos com Sangue


Meus dedos estão todos cortados, não é a primeira vez que isso acontece, mas a quantidade de vezes que anda acontecendo, já me faz crer que faz parte da rotina. Cada parede dessa casa tem sangue, às vezes me corto sem querer, outras vezes o sangue me sobe e eu começo. Não há dor, é involuntário. O sangue a escorrer pelo braço, já não me choca. O incômodo da água a tocar o ferimento, é a certeza de que mais uma vez perdi o controle, já perdi o amor próprio. O pior ainda é acordar, levantar por que nasce um novo dia, que tende a ser pior que ontem e melhor que o amanhã, às vezes ainda penso que é teimosia ou ironia do destino, mas eu sigo.