terça-feira, 2 de maio de 2023

Zero


O zero foi criado pelos povos hindus, alguns dizem que pra adicionar valor nas contas de estocagem. O zero foi criado pra que o nada fizesse sentido porquê é necessário que sentido o nada tenha. Na globalização e popularização da matemática financeira, o zero foi conhecido pelo negativo. À Direita, enriquece, à Esquerda, empobrece. O zero decimal é cíclico, infinito, intermitente. Me identifico com o zero. Criado para adicionar valor, conhecido pelo negativo, enriqueço vidas mas empobreço minha existência. Vivendo ciclos. Infinitos, intermitentes.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Não Reajo, Não Resisto, Não Respiro.

Ele me bateu novamente.
Seus tapas são frequentes.
Diz que a culpa de sua agressividade sou eu.
Também falou coisas horríveis de mim,
Sempre fala.
Sua rotina de sempre pegar uma falha minha e acentuar, machuca.
Acostumei a estar sempre errado.
Pros pais, um acidente. Pra família, um erro. Pra ele, saco de pancadas.
Não é só uma agressão física, é toda uma física da agressão. A capacidade dele de transformar toda a sua dor e amargura em energia, de condensar suas frustrações e personificar nos hematomas deixados na minha pele.
Reage.
Tentei. Diversas vezes. O orgulho é terrível. Isso tudo aqui é meu. Foi eu que construí. Uma mistura de suor e lágrimas que foram misturadas a massa de arrependimentos levantaram essas paredes, e o telhado é uma manta de impotência que não me deixa chegar ao céu. A janela tem grades, não me deixam sair. Você mesmo diz que daqui vivo eu não sairei. Não reajo, não resisto, não respiro.
Foge.
É visto por todos como covardia, falta mesmo um pouco mais de coragem para fugir daquilo que não tenho culpa. Sobreviver para começar a viver. Sinto falta do que não tive. Tenho medo de pra onde ir, maa andar pra trás é impossível, parar e esperar e agendar a data de morte e cair no mundo é mergulhar em precipícios.
Pulei.
Daqui a algum tempo deve-se ouvir o impacto de um corpo cansado a se espatifar no fundo, ou eu aprendo a voar antes de chegar no chão.

Dedos com Sangue


Meus dedos estão todos cortados, não é a primeira vez que isso acontece, mas a quantidade de vezes que anda acontecendo, já me faz crer que faz parte da rotina. Cada parede dessa casa tem sangue, às vezes me corto sem querer, outras vezes o sangue me sobe e eu começo. Não há dor, é involuntário. O sangue a escorrer pelo braço, já não me choca. O incômodo da água a tocar o ferimento, é a certeza de que mais uma vez perdi o controle, já perdi o amor próprio. O pior ainda é acordar, levantar por que nasce um novo dia, que tende a ser pior que ontem e melhor que o amanhã, às vezes ainda penso que é teimosia ou ironia do destino, mas eu sigo.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Recôncavo e Reconvexo

Uma foto, ao vivo ou um print.
Teu coração vai chegar na goela de qualquer jeito.
Você vai gelar, vai sentir o chão sumir como qualquer um.
Ainda mais se você tiver sido íntegro, correto e sobretudo responsável.
Você não vai entender, pois não é possível entender e compreender o outro. Nunca é. Mas sempre se quer. Eu aceito. Eu aceito o título. Corno. Prefiro assumir os chifres frondosos que me foram dados. Não é vergonha assumir algo que lhe foi dado pelo outro. A traição nada mais é que assumir a incompetência de sua verdadeira identidade. É assumir que seu lugar é entre os porcos dos mais imundos chiqueiros, pois de lá é tua origem, morada e sepultura. É assumir que o talento da arte dramática é sua real vocação, pois só sendo um exímio artista para todo dia construir essa máscara de moral e integridade que você ainda insiste em trajar. Assumo a cornitude - e a ela brindarei -, os pontudos chifres, os cornos, pois são cicatrizes que servirão de alerta para que nunca, nem sob a mais absoluta hipótese, eu seja igual a você.

"…Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
QUEM  NÃO É RECÔNCAVO E NEM PODE SER RECONVEXO…"

Experiência de Quase Vida

Quase morri. Ou melhor, eu quase me matei. Eu comecei a fazer análise assim que me encontrei filosoficamente, sempre me dei alta quando julguei necessário. Não consegui. Fraquejei. O mundo é o oceano na zona abissal. Sombrio, perigoso, assustador e sufocante. Senti o lampejo de vida se esvair e fui salvo. Dizem que Deus dá a cruz conforme a capacidade da pessoa. Tropecei, caí e me machuquei. De onde não haviam forças, levantei.  Sozinho. Lambendo as feridas e seguindo. Eu não renego meu sangue, sei de quem sou filho. Não desisto, sou teimoso. Uma nova etapa se inicia. Perguntas, dinâmicas e o tempo cronometrado. A vida é cíclica. Vai passar. Sempre passa.

E o Pulso...

A máquina e seu apitar contínuo
Fim.
Choque!
Lembra! Você era apenas uma criança. Corria pela casa sem preocupação, os dias eram pautados pela quantidade de gargalhadas que foram dadas e dormir era algo muito fácil e o mundo era uma aventura imaginada em seus mínimos detalhes…

Não tá reagindo…Adrenalina…

Lembra! A primeira batida descompassada do seu coração, teu primeiro amor, tua primeira frustração, seu primeiro não. Não foi o fim, não era o fim. Era o começo. Você não sabia ao certo o que sentia, na verdade você nem sabia o que estava acontecendo. Era mais forte que você, era mais forte que nós! Para, para de se esconder, você está bem. Sim, está. Volta que horas mesmo? Ok, juízo.

A pressão está cada vez mais fraca, se continuar assim vamos perder ele.

O beijo. Você sabia que o combinado era ficar de olho fechado, mas você queria olhar, era o seu primeiro beijo. Depois vieram os "flertes", "lances", "ficadas" lembra?! Lembra o primeiro orgasmo? O primeiro cigarro pós gozo a dois? Lembra o que passava pela sua cabeça? "Meu Deus, se minha mãe descobrir isso", "mas eu sou homem", você passou por isso, você sabe exatamente o que passou na sua cabeça e no fundo você sabia que não tinha erro, que não havia pecado. Errado é o julgamento alheio, pecado é findar o que não se consegue compreender.

"Não tá reagindo…"

Você sabe muito bem o preço de ser traído. Você sabe muito bem tudo o que sentiu quando viu os dois juntos. Você é incapaz. Inválido. Não queira descobrir o porquê daquilo que não tem causa. Você foi quem falou quem seria que era, se alguma parte errou não foi a sua. Tira essa navalha do pulso. Você chegou aqui, não pode bobear. Você mesmo disse que seria a última vez. Por favor, não.

"….A pressão tá caindo, estamos perdendo ele…"

Não chora. Tudo o que você fez foi chorar. A vida inteira. Reage. Ele não é o último, ainda há pessoas que pensam igual a você.

"…Não tá respirando, entuba…"

Você não cansou. Ainda resta estrada pra andar. Ainda há saídas, sempre haverá. Não desista por causa dele.

"…Massagem….1, 2, 3…"

Acorda. A culpa não é sua. Não perca a vida por quem nunca te quis.

"…1, 2, 3,…."

Você ainda pode ser feliz. Se permita. Você vai cair. Sempre. A diferença é que você deve aprender com cada queda, como evitar uma próxima queda.

".. .Nada ainda, de novo, 1, 2, 3…"

Você ainda se permite. Não faz sentido tudo isso, nascer, crescer, amar e sofrer. e
É muito pouco pra quem registrou presença nesse mundaréu. Você vai acordar e vai levantar.

A máquina e seu apitar continuo.
Longo.
Intermitente.
O paciente reagiu. Após infindável tempo morto ele ressurgiu. Não se sabe ainda se a falta de oxigenação e sinceridade deixaram sequelas. Só o tempo pode dizer. Só o tempo as pode curar...

Voltei.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A Memória Amnésica.

Não lembro do primeiro dia de sol, mas lembro do primeiro banho de chuva, não lembro mais onde está a felicidade mas sei onde está a tristeza, lembro do primeiro samba, mas não lembro quando comecei a ouvir Tom e Vinícius. Lembro do primeiro gozo, mas já esqueci minha última raiva, lembro de trocar os beijos por goles de bebida, elas sempre me atraíram mais. Lembro da primeira traição, da segunda e da terceira, da quarta em diante eu preferi esquecer. Lembro do primeiro tombo, mas não consigo lembrar quando foi que eu não caí, lembro do detalhe mais insignificante da pintura mas não lembro onde está a chave da porta. Achei a chave. Mas não sei onde está a porta, onde é minha casa, qual é minha cama. Continuo a acordar mas já esqueci o motivo, tomo todos os remédios mas já não sei mais pra quê, eu assino o talão de cheques, o formulário, o atestado, a notificação, mas já não sei mais como me chamam. Lembro de ter ouvido o vinil da Angela RoRo, mas já não sei como aquele cantor brega veio parar no IPod. Lembro do meu último casamento, mas não sei com quem casei, lembro do primeiro livro, mas não sei quem é o autor. Quando mesmo foi o ano que prometemos ficar juntos até a madeira do caixão virar adubo? Ou que ficamos deitados no céu olhando a normatividade do povo lá embaixo? Eu não sou especial, eu troco nomes, datas, endereços, propósitos, objetivos, prioridades, vivências, experiências. Eu só não troco o sentido pelo qual eu vivo, pra uns louco, pra outros maluco. Pra quê mesmo você disse que é bom manter a razão?