Lembro do seu olhar maroto me observando de trás do poste,
dos cigarros que você acendia, mas que não sabia fumar, da tentativa
desesperada em parecer que falava com alguém toda vez que eu me aproximava.
Você me parecia tão jovem, tão frágil, e eu só queria estar ali, te proteger,
te guardar em meus braços e não mais soltar. Será que eu me enganei tanto? Será
mesmo que foi tudo um sonho só meu? Mas e as palavras, as imagens e todo o
resto que você me disse? Eu não quero jogar fora, eu não quero terminar, mesmo
que não tenhamos começado nada. Eu preciso de você, eu te quero errante, te
quero por inteiro. Eu até mudei os móveis de lugar pra que você se sinta em
casa quando vier pra cá, o desenho que eu fiz pra você, eu pendurei na porta do
quarto só pra te ver toda vez que eu acordar. Abraço o travesseiro imaginado
você ali, no que era pra ser teu, na cama que era pra ser tua, nosso tatame do
cio, na luta de quem sente mais prazer, e no final você, nu em pêlo. Pêlo a
pêlo, barba com barba, ventre com ventre, falo com falo. Eu ainda penso em você
enquanto transo com os outros, eu tento imaginar o seu cheiro no deles, a mão
que me toca é a sua, a boca que me deflora é a sua. Não consigo encará-los, não
consigo sequer olhar naqueles olhos sedentos, é você que eu vejo. Dizem que se
cura um amor com outro, mas e se toda vez que eu tentar te esquecer, você
estiver lá? Eu parei aqui, aonde você me deixou, sem seguir em frente e com medo
de ir lá atrás buscar alguém que me faça te esquecer. Em meio a tantas
perguntas eu continuo aqui, parado no meio do mundo, sentindo a chuva e
imaginando o beijo dos apaixonados, sentindo o sol e o calor que me sobe toda
vez que imagino a nós, mas é sempre noite, é sempre frio, é sempre vazio.
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