sábado, 30 de abril de 2011

Gênesis e Apocalipse


Olhar o mundo do lado de fora e pedir pra descer, entrar nele e ver a impunidade, a sociedade com seus pré-conceitos, a individualidade de cada ser acompanhado de seus milhões, a loucura dos velhos largados nas ruas, as meninas que já nascem meretrizes, os meninos que agridem os seus iguais pelas diferenças que os une, os pais que matam seus filhos, os filhos que agridem seus pais, saio pela rua e inalo a fumaça tóxica que sai dos carros. Não consigo respirar, pouco a pouco sinto-me sufocado, não sei se são os cigarros que acendo ou se é o sol que me enrola, me aperta, me acende e me traga, momentos de euforia que se transformam em depressão, e que, quando abro os olhos sinto me embriagado. A Terra gira cada vez mais rápida, cambaleando bêbada em seu eixo, procurando um ombro amigo para chorar o seu oceano de lágrimas. Me pergunto se Deus desistiu da humanidade, ou se o gênesis e o apocalipse são rotinas, se todos os dias do barro eu venho e a cada noite sou submetido a encarar os anjos e os demônios do julgamento final. Escrevemos nosso próprio futuro, mas acho que pulei algumas páginas da minha vida, e sinto que não há mais tempo para reescrever essa história, sinto-me morto a espera de um Cristo que me mande vir pra fora, ver um novo mundo, ou até mesmo por alguém que me pegue pela mão e me faça construir um mundo só pra nós dois, que sejamos Adão e Eva no nosso paraíso, e que o único pecado é amar incondicionalmente.

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Nossos Enganos - Ângela RôRô

São nossos os nossos enganos
Os danos que danam em nós
Os erros que erramos unidos
Pagamos com a vida a sós
A vida com as horas contadas
O encontro marcado às escuras
Caminho de pedras marcadas
E um chão de penas duras
A raça humana ingrata
Só fez ferir a terra
De um jeito que não haja mais amanhã
Cruel geral tormenta
Doença, fome e guerra
Tão triste reconhecer que sou vilã

3 comentários:

  1. É ruim sentir essa culpa a cada vez que passo por aqui, como se eu tivesse o poder de secar algumas poucas lágrimas tuas. Sei que somos responsáveis pelo que fazemos, e o sofrimento dos outros foi pura escolha deles, também.

    ... mas eu não consigo me esquecer de como tudo foi um dia. E é por isso que bate esse aperto. Porque eu vejo tantos tropeços que poderiam ser evitados (e, novamente, eu sinto como se pudesse intervir), tantas bedidas desnecessárias e tantos cigarros que eu apagaria com o maior prazer.
    Mas eu sei que, pra você, o meu amor nunca vai parecer essa loucura que eu acho que é. Porque a gente cuida do que ama, certo? Mas, nesse caso, cuidar me traz feridas, e, por isso, tenho que aceitar te ver cair abismo abaixo.. (e o barulho da sua queda sempre me traz aquelas lágrimas pesadas, que você bem conhece..)

    Eu te amo, Gui. Sempre.

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  2. "...Tão triste reconhecer que sou vilã ..."

    Meu anjo, traçamos o nosso próprio caminho, e, eu sempre acreditei que há uma luz no fim do túnel e se por algum acaso eu me perder, eu tenho certeza que posso procurar e acharei um clarão, minha querida Claricinha! Te amo muito! ♥

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  3. As suas sensações (descritas com maestria) revelam a sensibilidade (que é o outro nome do amor). Ainda que seja doloroso, vale muito a pena cultivar esta sensibilidade. Não desista de amar, de sentir e de... escrever!

    Abraço!

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