Ando vendo o mundo em câmera lenta, vejo apenas o traço bêbado
dos faróis dos carros, a silhueta dos casais se beijando nos coretos, a sombra
do velho se arrastando na parede. O mundo anda tão sem graça, é como se todos
os dias fossem domingo, aquela preguiça de não fazer nada e o impulso de querer
fazer tudo, nessa dualidade quem ganha é a preguiça. Quero amar, mas não tem
ninguém e meu orgulho não me deixa procurar, sigo a filosofia de sempre
aparentar estar bem, mesmo querendo expor todas as minhas vontades. Na verdade
eu cansei, cansei de procurar pelas pessoas, de ouvir as novas músicas daquele
cantor que eu amava, de ir ver a exposição daquela artista que me inspiravam.
As vezes eu acho que já morri, e o que está aqui é o espírito do que jamais
esteve espiritualizado, ou talvez, minha alma foi passear e deixou o corpo
aqui. Não sei! Me sinto morto desde que nasci, a sensação de que falta algo, é
crescente! Quer saber? Eu vou por aí e se perguntarem por mim, diz que eu
morri! Desencarnei a dois meses e o que escreve aqui é a parte morta do que
jamais foi vivo um dia. Fui.
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